A IMPORTÂNCIA
DA LITERATURA INFANTIL PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
UNIUBE
UNIVERSIDE DE UBERABA
Tucuruí-2011
MARIA
DE FÁTIMA
A
IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA O
DESENVOLVIMENTO
DA CRIANÇA
Trabalho exigido como parte dos requisitos
para conclusão da Disciplina, sob orientação do professor Ronaldo Meireles
Martins
Curso:
Pedagogia
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UNIUBE
UNIVERSIDE DE UBERABA
Tucuruí-2011
SUMÁRIO
01
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Dedicatórias
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02
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Apresentação
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03
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Desenvolvimento
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04
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Breve Histórico da Educação Infantil
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05
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Conceito de linguagem
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06
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A Importância de Ouvir Histórias
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07
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A Criança e o Livro
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08
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A Literatura nos estágios psicológicos da criança
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APRESENTAÇÃO
Ao
longo dos anos, a educação tem se preocupado em contribuir para a formação de
um indivíduo crítico, responsável e atuante na sociedade. Isso porque se vive
em uma sociedade onde as trocas sociais acontecem rapidamente, seja através da
leitura, da escrita, da linguagem oral ou visual.
Diante
disso, a escola busca conhecer e desenvolver na criança as competências da
leitura e da escrita e como a literatura infantil pode influenciar de maneira
positiva nesse processo. Por ser um instrumento motivador e desafiador, a
literatura infantil, segundo Bakhtin (1992) é capaz de transformar o indivíduo
em um sujeito ativo, responsável pela sua aprendizagem, que sabe compreender o
contexto em que vive e modificá-lo de acordo com a sua necessidade.
O
tema da presente pesquisa é a contribuição da leitura e/ou contação de
histórias (literatura infantil) no desenvolvimento social, emocional e
cognitivo da criança.
Ao
analisar a leitura e contação de histórias como instrumento desenvolvimento
integral do indivíduo, percebe-se a necessidade da aplicação coerente de
atividades que despertem o prazer de ler, e estas devem estar presentes
diariamente na vida das crianças, desde bebês. Conforme Silva (2003, p.57)
“bons livros poderão ser presentes e grandes fontes de prazer e conhecimento.
“Descobrir
estes sentimentos desde bebezinhos, poderá ser uma excelente conquista para
toda a vida”.
No
entanto, apesar da grande importância que a literatura exerce na infância, seja
no desenvolvimento emocional ou na capacidade de expressar melhor suas idéias,
em geral, de acordo com Machado (2001), muitas crianças não gostam de ler e
fazem-no por obrigação.
O
que se percebe é que a literatura, bem como toda a cultura criadora e
questionadora, não está sendo explorada como deve nas escolas e isso ocorre em
grande parte, pela pouca informação dos professores. A formação acadêmica dos
professores, infelizmente não dá ênfase à leitura e esta é uma situação
contraditória, pois segundo comentário de Machado (2001, p.45) “não se contrata
um instrutor de natação que não sabe nadar, no entanto, as salas de aula
brasileira estão repletas de pessoas que apesar de não ler, tentam ensinar.”
Existem dois fatores que contribuem para que a criança adquira o gosto pela
leitura: curiosidade e exemplo. Neste sentido, o livro deveria ter a mesma
importância que tem a televisão dentro do lar. Os pais deveriam ler mais para
os filhos e para si próprios. No entanto, de acordo com a UNESCO (2005) somente
14% da população tem o hábito de ler, o que permite afirmar que a sociedade
brasileira não é leitora, em sua maioria. Assim, a situação problema levantada
para a construção da pesquisa foi, como desenvolver nos alunos uma literatura
baseada na fruição?
O
objetivo geral foi propor ações que pudessem resgatar através da leitura e
narrativa de diversas obras literárias o prazer pela leitura, criando ambientes
motivadores para uma leitura fruitiva.
Para
atingir esse objetivo, tornou-se essencial elaborar objetivos específicos que
primeiramente permitiram identificar os fatores que limitam a leitura, num
segundo momento observar as reações das crianças frente à leitura e contação de
histórias, para, finalmente, sugerir alguns meios que possam levar as crianças
a apropriar-se do ler por prazer, levar a criança a descobrir que a leitura não
só amplia o conhecimento, mas é fonte de prazer e divertimento.
O
segundo capítulo dessa pesquisa constitui a base teórica que norteou o trabalho
da pesquisadora. Os pressupostos teóricos que embasam o estudo iniciam com um
breve histórico da Literatura Infantil de Zilbermann e Lajolo (1998) e Coelho
(1991). Os conceitos de linguagem e leitura tiveram como base a interação de
Bakthin (1992). As crianças e as histórias, os estágios psicológicos da criança,
tiveram retorno nas leituras de Abramovich (1997), Sandroni e Machado (1998) e
Coelho (2000). A literatura e fruição emergiram das leituras de Bamberguer
(2000) e Pennac (1998) e Sandroni e Machado (1998).
Procurou-se
sustentação teórica para reforçar a idéia da importância da leitura para o
desenvolvimento integral do indivíduo e certificar-se de que é tarefa da
família e da escola desenvolver na criança o hábito de ler por prazer, não por
obrigação.
Na
etapa final da pesquisa, foram analisadas as atividades realizadas pelas
crianças após a leitura ou contação, bem como a interação entre professor e
alunos durante as atividades de leitura.
A
leitura é muito importante para o desenvolvimento da criança, visto que é o
caminho que leva a desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos de forma
prazerosa e significativa na criança.
O
ideal é conscientizar pais e professores sobre a importância de desenvolver o
hábito da leitura nos primeiros anos de vida da criança. Assim, é indispensável
uma ação que estimule o envolvimento de todos, sendo para isso, necessário um
trabalho contínuo, que prepare inicialmente o professores. Sabe-se através de
estudos que um professor só poderá formar bons leitores, se ele próprio for um
leitor competente.
O
aluno será um bom leitor se ver a leitura com prazer. Assim, a leitura poderá
ser um hábito saudável, capaz de formar cidadãos conscientes, competentes, com
sensibilidade e imaginação.
Breve histórico da Literatura
Infantil
Os
primeiros livros direcionados ao público infantil, surgiram no século XVII ZILBERMANN
e LAJOLO, (1998). Observa-se que, no início, a literatura para crianças se
encontrava mesclada com a literatura para adultos, mas segundo Zilbermann e
Lajolo (1998) adquiriu contornos específicos com o Romantismo.
Segundo
Zilbermann e Lajolo (1998) deve-se a particularização da infância ao desenvolvimento
de uma literatura direcionada. A burguesia, ao privilegiar a família,
preocupou-se com o sentimento e as particularidades da infância. Dessa forma a
Literatura do século XIX que era essencialmente burguesa, trouxe a aventura, a
ficção científica, o conto de fadas e as fábulas, fazendo com que este se
tornasse o século de ouro da Literatura Infantil.
Por
seu caráter mágico e maravilhoso, os contos de fadas, predominantes na
literatura infantil, tornaram-se clássicos. Segundo Coelho (1991) os contos narrados
pelos camponeses em torno das lareiras, consistiam num ritual familiar
vespertino visto que as noites eram muito compridas e precisavam ser
preenchidas com algo que fornecesse um consolo à vida dura e medíocre. Cumpre
lembrar que eram estrategicamente narrados à noitinha para que ficassem
registrados no inconsciente infantil como o último relato do dia, favorecendo à
memorização e à fruição. Tais relatos eram fantasiosos, seja para divertir os
adultos, seja para assustar as crianças. Foram histórias acumuladas ao longo
das eras,transmitidas pela fala de um contador e posteriormente, registradas
por escrito.Assim, ao longo do século XVIII (COELHO, 1991) surge outro enfoque relevante
para a literatura infantil, o comprometimento com a Pedagogia e Ética, dentro
dos valores da burguesia em ascensão. O didatismo, o moralismo e a doutrinação religiosa indicam a preocupação
da época com a iniciação científica,relegando a recreação a um segundo plano.
Tal fato se dá porque o reconhecimento da infância ocorre na Europa, nesse
século, quando é atribuído à criança o papel de aprendiz num espaço próprio – a
escola – e de quem se espera determinado comportamento. Assim, a escola passa a
usar uma literatura intencional, cujas histórias acabavam sempre premiando o
bom e castigando o que se consideravam. Seguia à risca os preceitos religiosos
e considerava a criança um ser a se moldar de acordo com o desejo dos que a
educam, podando-lhe aptidões e expectativas. Na Alemanha, os irmãos Grimm, com
suas personagens populares de histórias coletadas do povo, ao organizarem os
textos a partir do relato oral, sem acréscimos ou reduções, marcaram o início
do verdadeiro estudo do folclore, na Europa.
(ARROYO,
1990). Monteiro Lobato foi o grande divisor de águas na literatura infantil no Brasil.
De Lobato até os dias de hoje, houve um grande avanço, Acredita-se que Conto da Carochinha tenha
sido o primeiro livro para crianças publicado no Brasil, em1896, consistindo
numa coletânea, organizada por Figueiredo Pimentel de contos populares,
traduzidos e adaptados, de Perrault, Grimm e Andersen. (COELHO, 1991) Atualmente,
escritores como Ziraldo, Silvia Orthof, Ruth Rocha e Ana Maria Machado escrevem
um livro diferente para as crianças, sem o didatismo que sempre caracterizou a
literatura infantil. Com um apelo lúdico muito forte, apresentam problemas que
acontecem no cotidiano da vida infantil. Ao abolir o moralismo pedante,
transformam as situações de crise e conflito em situações engraçadas eternas.
Discutem a relação de poder, de autoridade e política com doçura e
poesia.Segundo Abramovich (1997) quando as crianças ouvem essas
histórias,passam a visualizar de forma mais clara, sentimentos que têm em
relação ao mundo. As histórias trabalham problemas existenciais típicos da
infância, como medos, sentimentos de inveja e de carinho, curiosidade, dor,
perda, além de ensinarem infinitos assuntos.
E através de uma história que se pode
descobrir outros lugares,
outros
tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra
ética,
outra ótica... É ficar sabendo história, filosofia, direito, política,
sociologia,
antropologia, etc. sem precisar saber o nome disso tudo e
muito
menos achar que tem cara de aula. (ABRAMOVICH, 1997,
p.17)
Nesse
sentido, quanto mais cedo a criança tiver contato com os livros e perceber o
prazer que a leitura produz, maior será a probabilidade dela tornar-se um adulto
leitor.
Da
mesma forma através da leitura a criança adquire uma postura crítico reflexiva extremamente
relevante à sua formação cognitiva. Ela pode pensar,duvidar, perguntar-se,
questionar, pode se sentir inquieta e cutucada ao ler uma história e querer
lê-la até o final, ou deixá-la de lado de uma vez.
Conceito de Linguagem
Quando a criança ouve ou lê uma história
e é capaz de comentar, indagar, duvidar ou discutir sobre ela, realiza uma
interação verbal, que neste caso, vem ao encontro da noção de linguagem de
Bakhtin (1992). Para ele, confrontamento de idéias, de pensamentos em relação
aos textos, tem sempre um caráter coletivo, social.
O
conhecimento é adquirido na interlocução, o qual evolui por meio do
confronto,
da contrariedade. Assim, a linguagem segundo Bakhtin (1992) é constitutiva,
isto é, o sujeito constrói o seu pensamento, a partir do pensamento do outro,
portanto, uma linguagem dialógica.
A
vida é dialógica por natureza. Viver significa participar de um
diálogo:
interrogar, escutar, responder, concordar, etc. Neste diálogo,
o
homem participa todo e com toda a sua vida: com os olhos, os
lábios,
as mãos, a alma, o espírito, com o corpo todo, com as suas
ações.
Ele se põe todo na palavra e esta palavra entra no tecido
dialógico
da existência humana, no simpósio universal. (BAKHTIN,
(1992,
p.149)
É
partindo dessa visão da interação social e do diálogo, que se pretende compreender
a relevância da literatura infantil.
Para Vygotsky (1991), o pensamento e a palavra
não são ligados por um elo primário, mas, ao longo da evolução do pensamento e
da fala, tem início uma conexão entre ambos, que se modifica e se desenvolve.
Segundo ele, o fato mais importante revelado pelo estudo genético do pensamento
e da fala é que a reação entre ambos passa por várias mudanças. O progresso da
fala não é paralelo ao progresso do pensamento. As curvas de crescimentos de
ambos cruzam-se muitas vezes; podem atingir o mesmo ponto e correr lado a lado,
e até mesmo fundir-se por algum tempo, mas acabam se separando novamente. Isso
se aplica tanto à filogenia como à ontogenia.
Conceito de Leitura
A
leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de
construção
do significado do texto. Segundo Coelho (2000), a leitura, no sentido de compreensão
do mundo, é condição básica do ser humano.
A
compreensão e sentido daquilo que o cerca inicia-se quando bebê, nos primeiros
contatos com o mundo. Os sons, os odores, o toque, o paladar, de acordo com
Martins (1994) são os primeiros passos para aprender a ler.
Ler,
no entanto, é uma atividade que implica não somente na decodificação de símbolos,
ela envolve uma série de estratégias que permitem ao indivíduo compreender o
que lê. Nesse sentido, relatam os PCN’s (2001, p.54.):
Um
leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de
selecionar,
dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que
podem
atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar
estratégias
de leitura adequada para abordá-los de forma a atender a
essa
necessidade.
Assim,
pode-se observar que a capacidade para aprender está ligada ao contexto pessoal
do indivíduo. Desta forma, Lajolo (2002) afirma que cada leitor, entrelaça o
significado pessoal de suas leituras de mundo com os vários significados que
ele encontrou ao longo da história de um livro, por exemplo.
Um
outro pesquisador da leitura, o professor Ezequiel Theodoro da Silva (1981),
define leitura como uma atribuição contínua de significados, que tem como funções
a circulação da cultura e uma forma de participação entre as pessoas. Para Silva,
“o leitor transforma o texto e transforma-se, e, assim, constituem-se três propósitos
fundamentais da leitura: compreender a mensagem compreender-se na mensagem e
compreender-se pela mensagem.” (1981, p.45). A leitura é, assim, vista como um
deciframento e um desdobramento do texto.
O
primeiro mundo que o indivíduo busca compreender é o da família, a casa onde
mora, o quintal onde brinca, o bairro, a cidade, o estado, o país. Tudo isso marcado
fortemente por um lugar social. E ao buscar compreender está fazendo leituras
desse mundo – leitura crítica, prazerosa, envolvente,
significativa,desafiadora.
O
ato de ler então, não representa apenas a decodificação, já que esta não está
imediatamente ligada a uma experiência, fantasia ou necessidade do indivíduo.
De
acordo com os PCN’s (2001), a decodificação é apenas uma, das várias etapas de
desenvolvimento da leitura. A compreensão das idéias percebidas, a interpretação
e a avaliação são as outras etapas que segundo Bamberguer (2000,p.23)
“fundem-se no ato da leitura”.
Dessa
forma, trabalhar com a diversidade textual, segundo os PCN’s (2001), fazendo
com que o indivíduo desenvolva significativamente as etapas de leitura é contribuir
para a formação de leitores competentes.
A Importância de Ouvir Histórias
O
ato de contar histórias é remoto. Em todas as partes do mundo encontramo-lo. E
por ele se perpetua a literatura oral, comunicando de indivíduo a indivíduo e
de povo a povo o que os homens, através das idades, têm selecionado da sua
experiência como mais indispensável à vida.
A
literatura, inicialmente utilitária, a princípio utiliza a própria palavra como
instrumento. Serve-se dela como elemento do ritual, compelindo a natureza, por
ordens, súplicas ou louvores, que segundo Meireles (1984) eram necessários ao
bem- estar humano.
O
valor estético de contar histórias vem acrescentar-se, depois, como acessório
ao primeiro valor, de interesse imediato. Neste sentido, Meireles relata sobre
a satisfação de ser contador de histórias e o prazer de ser ouvinte:
O
gosto de contar é idêntico ao de escrever – e os primeiros
narradores
são os antepassados anônimos de todos os escritores. O
gosto
de ouvir é como o gosto de ler. Assim, as bibliotecas, antes de
serem
estas infinitas estantes, com as vozes presas dentro dos
livros,
foram vivas e humanas, rumorosas, com gestos, canções,
danças
entremeadas às narrativas. (1984, p.49)
Dessa
forma, ouvir histórias é um acontecimento tão prazeroso que desperta o
interesse das pessoas em todas as idades.
Se
os adultos adoram ouvir uma boa história, um “bom causa”, a criança é capaz de
se interessar e gostar ainda mais delas, já que sua capacidade de imaginar é
mais intensa.
A
narrativa faz parte da vida da criança desde quando bebê, através da voz amada,
dos acalantos e das canções de ninar, que mais tarde vão dando lugares cantigas
de roda, a narrativas curtas sobre crianças, animais ou natureza. Crianças bem
pequenas, já demonstram seu interesse pelas histórias, batendo palmas,sorrindo,
sentindo medo ou imitando algum personagem.Nesse sentido, é fundamental para a
formação da criança que ela ouça muitas histórias desde a mais tenra idade.
O
primeiro contato da criança com um texto é realizado oralmente, quando o pai, a
mãe, os avós ou outra pessoa conta-lhe os mais diversos tipos de histórias. A preferida,
nesta fase, é a história da sua vida.
A
criança adora ouvir como foi que ela nasceu, ou fatos que aconteceram com ela
ou com pessoas da sua família. À medida que cresce, já é capaz de escolher a
história que quer ouvir, ou a parte da história que mais lhe agrada. É nessa
fase, que as histórias vão tornando-se aos poucos mais extensas, mais detalhadas.
A
criança passa a interagir com as histórias, acrescentam detalhes, personagens
ou lembra-se de fatos que passaram despercebidos pelo contador. Essas histórias
reais são fundamentais para que a criança estabeleça a sua
identidade,compreenda melhor as relações familiares.
Outro
fato relevante é o vínculo afetivo que se estabelece entre o contador das
histórias e a criança. Contar e ouvir uma história aconchegada a quem se ama é compartilhar
uma experiência gostosa, na descoberta do mundo das histórias e dos livros.
Algum
tempo depois, as crianças passam a se interessar por histórias inventadas e
pelas histórias dos livros, como: contos de fadas ou contos
maravilhosos,
poemas, ficção, etc. Têm nesta perspectiva, a possibilidade de envolver o real
e o imaginário, que, de acordo com a afirmação de Sandroni &
Machado
(1998, p.15), “os livros aumentam muito o prazer de imaginar coisas. Apartir de
histórias simples, a criança começa a reconhecer e interpretar sua experiência
da vida real.” É importante contar histórias mesmo para as crianças que já
sabem ler, pois segundo Abramovich (1997, p.23) “quando a criança sabe ler é
diferente sua relação com as histórias, porém, continua sentindo enorme prazer
em ouvi-las”.
Quando
as crianças maiores ouvem as histórias, aprimoram a sua capacidade de
imaginação, já que ouvi-las pode estimular o pensar, o desenhar, o escrever, o
criar, o recriar.
Em
um mundo hoje tão cheio de tecnologias, onde as informações estão tão prontas,
a criança que não tiver a oportunidade de suscitar seu imaginário, poderá no
futuro, ser um indivíduo sem criticidade, pouco criativo, sem sensibilidade
para compreender a sua própria realidade.
Portanto,
garantir a riqueza da vivência narrativa desde os primeiros anos de vida da
criança contribui para o desenvolvimento do seu pensamento lógico e também de
sua imaginação,que segundo Vygotsky (1992, p.128) caminham juntos:“a imaginação
é um momento totalmente necessário, inseparável do pensamento realista.”. Nesse
sentido, o autor enfoca que na imaginação a direção da consciência tende a se
afastar da realidade. Esse distanciamento da realidade vivenciado pela criança,
através de uma história por exemplo, é essencial para conhecer mais profundamente
a sua própria realidade.
A Criança e o Livro
O
contato da criança com o livro pode acontecer muito antes do que os adultos
imaginam. Muitos pais acreditam que a criança que não sabe ler não se interessa
por livros, portanto, não precisa ter contato com eles. O que se percebe é bem
ao contrário. Segundo Sandroni e Machado (1998, p.12) “a criança percebe desde
muito cedo, que livro é uma coisa boa, que dá prazer”.
As
crianças bem pequenas interessam-se pelas cores, formas e figuras que os livros
possuem e que mais tarde, darão significados a elas, identificando-as enumerando.
É
importante que o livro seja tocado pela criança, folheado, de forma que tenha
um contato mais íntimo com o objeto do seu interesse.
A
partir daí, ela começa a gostar dos livros, percebe que eles fazem parte de um
mundo fascinante, onde a fantasia apresenta-se por meio de palavras e desenhos.
De
acordo com Sandroni e Machado (1998, p.16) “o amor pelos livros não é coisa que
apareça de repente”. É preciso ajudar a criança a descobrir o que eles podem
oferecer. Assim, pais e professores têm um papel fundamental nesta descoberta:
serem estimuladores e incentivadores da leitura.
A Literatura e os Estágios Psicológicos da Criança
Durante
o seu desenvolvimento, a criança passa por estágio psicológico que precisam ser
observados e respeitados no momento da escolha de livros paraela. Essas etapas
não dependem exclusivamente de sua idade, de acordo com Coelho (2000), dependem
do seu nível de amadurecimento psíquico, afetivo intelectual e seu nível de
conhecimento e domínio do mecanismo da leitura.Neste sentido, é necessária a
adequação dos livros às diversas etapas pelas quais a criança normalmente
passa. Existem cinco categorias que norteiam as fases do desenvolvimento
psicológico da criança: o pré-leitor, o leitor iniciante, o leitor-em-processo,
o leitor fluente e o leitor crítico. Segundo Coelho (2000):
O
pré-leitor: categoria que abrange duas fases.
Primeira
infância (dos 15/17 meses aos 3 anos): nesta fase a criança começa a reconhecer
o mundo ao seu redor através do contato afetivo e do tato. Por esse motivo ela
sente necessidade de pegar ou tocar tudo o que estiver ao seu alcance. Outro
momento marcante nesta fase é a aquisição da linguagem, onde acriança passa a
nomear tudo a sua volta.
A
partir da percepção da criança com o meio em que vive, é possível estimulá-la
oferecendo-lhe brinquedos, álbuns, chocalhos musicais, entre outros. Assim, ela
poderá manuseá-los e nomeá-los e com a ajuda de um adulto poderá relacioná-los
propiciando situações simples de leitura.
Segunda
infância (a partir dos 2/3 anos): é o início da fase egocêntrica. Está mais
adaptada ao meio físico e aumenta sua capacidade e interesse pela comunicação
verbal. Como se interessa também por atividades lúdicas, o “brincar” com o
livro será importante e significativo para ela.
Nessa
fase, os livros adequados, de acordo com Abramovich (1997) devem apresentar um
contexto familiar, com predomínio absoluto da imagem que deve sugerir uma
situação. Não se deve apresentar texto escrito, já que é através da nomeação
das coisas que a criança estabelecerá uma relação entre a realidade e o mundo
dos livros.
Livros
que propõem humor, expectativa ou mistério são indicados para o pré-leitor. A
técnica da repetição ou reiteração de elementos são, segundo Coelho (2000,
p.34), “favoráveis para manter a atenção e o interesse desse difícil leitor a ser
conquistado”.
O
leitor iniciante (a partir dos 6/7 anos): essa é a fase em que a criança começa
a apropriar-se da decodificação dos símbolos gráficos, mas como ainda encontra-se
no início do processo, o papel do adulto como “agente estimulador” é fundamental.
Os
livros adequados nessa fase devem ter uma linguagem simples com começo, meio e
fim. As imagens devem predominar sobre o texto.
As
personagens podem ser humanas, bichos, robôs, objetos, especificando sempre os
traços de comportamento, como bom e mau, forte e fraco, feio e bonito. Histórias
engraçadas, ou que o bem vença o mal, atraem muito o leitor nesta fase.
Indiferentemente
de se utilizarem textos como contos de fadas ou do mundo cotidiano, de acordo
com Coelho (2000, p. 35) “eles devem estimular a imaginação, a inteligência, a
afetividade, as emoções, o pensar, o querer, o sentir”.
O
leitor-em-processo (a partir dos 8/9anos): a criança nesta fase já domina o mecanismo
da leitura. Seu pensamento está mais desenvolvido, permitindo-lhe realizar
operações mentais. Interessa-se pelo conhecimento de toda a natureza e pelos
desafios que lhes são propostos.
O
leitor desta fase tem grande atração por textos em que haja humor e
situações inesperadas ou satíricas. O realismo
e o imaginário também agradam a este leitor.
Os
livros adequados a essa fase devem apresentar imagens e textos, estes, escritos
em frases simples, de comunicação direta e objetiva.
De
acordo com Coelho (2000), os livros devem conter histórias com início, meio e
fim. O tema deve girar em torno de um conflito que deixará o texto mais emocionante
e culminar com a solução do problema.
O
leitor fluente (a partir dos 10/11 anos): nessa etapa o leitor está em fase de
consolidação dos mecanismos da leitura. Sua capacidade de concentração cresce e
ele é capaz de compreender o mundo expresso no livro. Segundo Coelho (2000), é
a partir dessa fase que a criança desenvolve o “pensamento hipotético dedutivo”
e a capacidade de abstração.
Esse
estágio, chamado de pré-adolescência, promove mudanças significativas no
indivíduo. Há um sentimento de poder interior, de ver-se como um ser
inteligente, reflexivo, capaz de resolver todos os seus problemas sozinhos.
Aqui há uma espécie de retomada do egocentrismo infantil, pois assim como
acontece com as crianças nesta fase, o pré-adolescente pode apresentar um certo
desequilíbrio com o meio em que vive.
O
leitor fluente é atraído por histórias que apresentem valores políticos e éticos,
por heróis ou heroínas que lutam por um ideal. Identificam-se com textos que apresentam
jovens em busca de espaço no meio em que vivem, seja no grupo,equipe, entre
outros.
É
adequado oferecer a esse tipo de leitor, histórias com linguagem mais elaborada.
As imagens já não são indispensáveis, porém ainda são um elemento forte de
atração.
Interessa-se
por mitos e lendas, histórias policiais, romances e aventuras.
Os
gêneros narrativos que mais agradam são os contos, as crônicas e as novelas. O
leitor crítico (a partir dos 12/13 anos): é total o domínio da leitura e da linguagem
escrita. Sua capacidade de reflexão aumenta, permitindo-lhe a
intertextualização.
Desenvolve gradativamente o pensamento reflexivo e a consciência crítica em
relação ao mundo. Sentimentos como saber, fazer e poder são elementos que
permeiam o adolescente. O convívio do leitor crítico com o texto literário,
segundo Coelho (2000, p.40): “deve extrapolar a mera fruição de prazer ou
emoção e deve provocá-lo para penetrar no mecanismo da leitura”.
O
leitor crítico continua a interessar-se pelos tipos de leitura da fase
anterior, porém, é necessário que ele se aproprie dos conceitos básicos da
teoria literária. De acordo com Coelho (2000, p.40) a literatura é considerada
a arte da linguagem e como qualquer arte exige uma iniciação. Assim, há certos
conhecimentos a respeito da literatura que não podem ser ignorados pelo leitor
crítico.
O Incentivo ao Hábito de Ler
O ato de ler, na concepção de José
Morais (1970), oscila em torno de um desafio, um prazer pessoal e um problema
social. Desafio porque a arte de ler é uma arte menosprezada, que o homem
realiza automaticamente, sem pensar. Prazer pessoal porque já foi comparada ao
sonhar, ao pastar e ao digerir. Um problema social porque a demanda da
sociedade é por pessoas leitoras e letradas e, mesmo no século XXI, a leitura
ainda é mal compartilhada, nos países desenvolvidos.
Desenvolver o interesse e o hábito pela
leitura é um processo constante que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se
na escola e continua pela vida inteira.
Existem diversos fatores que
influenciam o interesse pela leitura. O primeiro e talvez mais importante é
determinado pela “atmosfera literária” que, segundo Bamberguer (2000, p.71) a
criança encontra em casa.
A criança que ouve histórias desde
cedo, que tem contato direto com livros e que seja estimulada, terá um
desenvolvimento favorável ao seu vocabulário, bem como a prontidão para a
leitura.
De acordo com Bamberguer (2000) a
criança que lê com maior desenvoltura se interessa pela leitura e aprende mais
facilmente; neste sentido, a criança interessada em aprender se transforma em
um leitor capaz. Sendo assim, pode-se dizer que a capacidade de ler está
intimamente ligada à motivação. Infelizmente são poucos os pais que se dedicam
efetivamente a estimular essa capacidade nos filhos.
Outro fator que contribui positivamente
em relação à leitura é a influência do professor. Nessa perspectiva, cabe ao
professor desempenhar um importante papel: o de ensinar a criança a ler e a
gostar de ler. A respeito do prazer de ler, Daniel Pennac (1998) assinala que é
necessário não utilizar o verbo ler no imperativo, para ele, o dogma, ou seja,
a necessidade de ler, funciona como um impedimento a prazer da leitura. E para
recuperar esse prazer, o autor elenca dez direitos “imprescritíveis do leitor”:
o direito de não ler; o de pular páginas; o de não terminar um livro; o de
reler; o de ler qualquer coisa; o direito ao bovarismo; o de ler em qualquer
lugar; o de ler uma frase aqui e outra ali; o de ler em voz alta e o direito de
calar.
Assim,
professores que oferecem pequenas doses diárias de leitura agradável, sem
forçar, mas com naturalidade, desenvolverão na criança um hábito que poderá
acompanhá-la pela vida afora.
Para desenvolver um programa de
leitura equilibrado, que integre os conteúdos relacionados ao currículo escolar
e ofereça uma certa variedade de livros de literatura como contos, fábulas e
poesias, é preciso que o professor observe a idade cronológica da criança e
principalmente o estágio de desenvolvimento de leitura que ela se encontra. De
acordo com Sandroni e Machado (1998, p.23) “o equilíbrio de um programa de
leitura depende muito mais do bom senso e da habilidade do professor que de uma
hipotética e inexistente classe homogênea”.
Assim, as condições necessárias ao
desenvolvimento de hábitos positivos de leitura, incluem oportunidades para ler
de todas as formas possíveis. Freqüentar livrarias, feiras de livros e
bibliotecas são excelentes sugestões para tornar permanente o hábito de
leitura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a avalanche de
conhecimento escrito, imediato e disponível, o papel da Literatura é
desenvolver nas pessoas, principalmente nas crianças, um espírito analítico e
crítico, o que não acontece quando a oportunidade lhes é negada. Quando, no
século XVIII, os mediadores do texto literário, sacerdotes e críticos, cederam
espaço à figura do leitor-intérprete, foram abertas infinitas possibilidades de
dar sentidos à leitura. A partir desse pressuposto ler é sempre interpretar e a
leitura tem uma dimensão social. Provoca, enriquece e encaminha à reflexão.
A leitura desempenha um
papel no desenvolvimento social, econômico e político de uma Nação, pois não
existe nação desenvolvida que não seja uma nação de leitores. A nação
brasileira precisa de uma massa crítica de leitores ativos, que saibam
interpretar com desenvoltura as informações escritas. Restrita à informação
oralizada, a grande massa da população brasileira carente, que habita as
favelas e as periferias, não tem oportunidade para se incorporar às elites pensantes
e atuantes, pois não adquiriu o direito à voz crítica. Com exceção do livro
didático, que é praticamente obrigatório e distribuído gratuitamente às escolas
pelo Governo Federal, as crianças da classe baixa têm acesso à Literatura
apenas por meio da escola ou da biblioteca. Se a escola valorizar a leitura,
mas a sociedade não o fizer, o hábito de ler extinguir-se-á com a conclusão ou
evasão do ensino fundamental.
Lembrando toda a
importância da Literatura Infantil, desenvolvida ao longo dessa pesquisa
gostaria de apresentar algumas sugestões que contribuirão para o caminho de uma
sociedade leitora: continuidade na tradição de contar histórias para as
crianças seja no lar, seja na escola; recuperação do estatuto da liberdade e de
prazer da leitura no âmbito das escolas; permitir à criança ser sujeito em suas
leituras; oportunizar não apenas autores diferentes, mas vários livros do mesmo
autor 65 em
épocas diferentes de sua vida; propiciar à criança a construção de um novo
texto; integração de professores e bibliotecários na elaboração de programas de
leitura, incentivar a criação de bibliotecas particulares; garantir um bom
acervo às bibliotecas escolares e públicas; as universidades deveriam promover
e apoiar pesquisas relacionadas com os processos de leitura; a sociedade
brasileira deveria organizar um programa permanente de propaganda da leitura.
Acredito que dessa forma a
contribuição que nós, pais e professores, deixamos às crianças fará muita
diferença quando estas forem adultos em um mundo tão complexo quanto o nosso.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH,
Fanny. Literatura
Infantil: gostosuras e bobices. 4.ed. São Paulo: Scipione, 1997.
ARROYO,
Leonardo. Literatura
infantil brasileira. 10.ed. São Paulo:
Melhoramentos,
1990.
BAKHTIN,
Mikhail V. Estética da criação
verbal. São Paulo: Martins Fontes1992.
BAMBERGER,
Richard. Como incentivar o
hábito da leitura. 7.ed. São Paulo: Ática, 2000.
BRASIL,
Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua
Portuguesa. 3.ed. Brasília: A
secretaria,
2001.
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